sexta-feira, 23 de outubro de 2015

“Até quarta, Isabela”: carta de amor e testamento político de Francisco Julião (Por Cláudia Ferreira – Mirim Brasil)





Escrita na prisão pós-golpe de 1964, mais bela e poética obra do revolucionário pernambucano e líder das Ligas Camponesas será relançada no XIII Encontro Internacional de Cátedras Martianas
Por Cláudia Ferreira – Mirim Brasil

Manuscritos que devolveram a voz a um agitador encarcerado, um intelectual cativo, que parecia necessitar de lápis e papel em maior medida que de água e comida. A dignidade de revolucionário e humanista de Francisco Julião (1915-1999) está inteiramente contida em sua obra mais bela e poética, “Até Quarta, Isabela”. A quarta edição do livro, publicada no início de 2015 como parte da celebração do centenário de seu autor, será relançada ao final do segundo dia do XIII Encontro Internacional de Cátedras Martianas, em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco.

Redigida no cárcere enfrentado logo após o golpe militar de abril de 1964, a obra é definida pelo próprio autor, líder das Ligas Camponesas que mobilizaram os trabalhadores e trabalhadoras do campo no Nordeste brasileiro afora nos anos 1950, como uma carta de amor à filha, então recém-nascida, aos entes queridos e à Pátria. No entanto, ela acabou ultrapassando tal intenção, se tornando uma espécie de testemunho político e mensagem de esperança e resistência aos companheiros e companheiras de militância contra a ofensiva militar fascista que começava a tomar conta do país.

Anacleto Julião, filho de Francisco Julião e principal guardião da memória do pai, explica a trajetória das folhas de papel, adquiridas com a ajuda de um soldado e levadas para fora da prisão nas fraldas de sua filha caçula, Isabela, quando Maria José, irmã de Julião, levava a menina, então com dois meses de vida, para as visitas às quartas-feiras. “Os manuscritos foram retirados da prisão e reproduzidos em mimeógrafo de álcool e levaram muitos jovens brasileiros e brasileiras a tomar as armas contra a ditadura militar. Tenho testemunhas de que esse texto era lido clandestinamente, assim como os escritos e as poesias de José Martí”, compara Anacleto.

Anacleto associa ao escritor e político cubano o caráter anti-imperialista e latino-americanista das ideias de Julião. “Ambos foram grandes oradores, líderes políticos, escritores e poetas. E tinham muito pouca habilidade para as armas e a luta armada. Porém ambos se colocaram à disposição de até mesmo entregarem suas vidas como exemplo para revolucionar, cada um na sua época”, avalia Anacleto, que alimenta forte expectativa para o Encontro de Cátedras. “Eu espero que nós possamos ressaltar a importância da unidade operária e camponesa da América Latina e transformar o que hoje existe numa grande pátria latino-caribenha, unida na diversidade de suas culturas e na sua vontade anti-imperialista”, conclui.

XIII Encontro Internacional de Cátedras Martianas
Relançamento do livro “Até Quarta, Isabela”
Data e horário: 29 de outubro de 2015, às 16h
Local: Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) - Campus Vitória de Santo Antão
*Atividade aberta ao público!

Nenhum comentário: