Escrita na prisão pós-golpe de 1964, mais bela e poética obra do
revolucionário pernambucano e líder das Ligas Camponesas será relançada no XIII
Encontro Internacional de Cátedras Martianas
Por Cláudia Ferreira – Mirim Brasil
Manuscritos que devolveram a voz
a um agitador encarcerado, um intelectual cativo, que parecia necessitar de
lápis e papel em maior medida que de água e comida. A dignidade de
revolucionário e humanista de Francisco Julião (1915-1999) está inteiramente
contida em sua obra mais bela e poética, “Até Quarta, Isabela”. A quarta edição
do livro, publicada no início de 2015 como parte da celebração do centenário de
seu autor, será relançada ao final do segundo dia do XIII Encontro
Internacional de Cátedras Martianas, em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata
de Pernambuco.
Redigida no cárcere enfrentado
logo após o golpe militar de abril de 1964, a obra é definida pelo próprio
autor, líder das Ligas Camponesas que mobilizaram os trabalhadores e
trabalhadoras do campo no Nordeste brasileiro afora nos anos 1950, como uma
carta de amor à filha, então recém-nascida, aos entes queridos e à Pátria. No
entanto, ela acabou ultrapassando tal intenção, se tornando uma espécie de
testemunho político e mensagem de esperança e resistência aos companheiros e companheiras
de militância contra a ofensiva militar fascista que começava a tomar conta do
país.
Anacleto Julião, filho de
Francisco Julião e principal guardião da memória do pai, explica a trajetória
das folhas de papel, adquiridas com a ajuda de um soldado e levadas para fora
da prisão nas fraldas de sua filha caçula, Isabela, quando Maria José, irmã de Julião, levava a menina, então com dois meses de
vida, para as visitas às quartas-feiras. “Os manuscritos foram retirados da
prisão e reproduzidos em mimeógrafo de álcool e levaram muitos jovens
brasileiros e brasileiras a tomar as armas contra a ditadura militar. Tenho
testemunhas de que esse texto era lido clandestinamente, assim como os escritos
e as poesias de José Martí”, compara Anacleto.
Anacleto associa ao escritor e
político cubano o caráter anti-imperialista e latino-americanista das ideias de
Julião. “Ambos foram grandes oradores, líderes políticos, escritores e poetas.
E tinham muito pouca habilidade para as armas e a luta armada. Porém ambos se colocaram
à disposição de até mesmo entregarem suas vidas como exemplo para revolucionar,
cada um na sua época”, avalia Anacleto, que alimenta forte expectativa para o
Encontro de Cátedras. “Eu espero que nós possamos ressaltar a importância da
unidade operária e camponesa da América Latina e transformar o que hoje existe
numa grande pátria latino-caribenha, unida na diversidade de suas culturas e na
sua vontade anti-imperialista”, conclui.
XIII Encontro Internacional de Cátedras Martianas
Relançamento do livro “Até
Quarta, Isabela”
Data e horário: 29 de outubro de
2015, às 16h
Local: Instituto Federal de
Pernambuco (IFPE) - Campus Vitória de Santo Antão
*Atividade aberta ao público!
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