segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Programa Fora da Curva que foi ao ar em 21/09/2017 realizado pela Rádio Universitária FM 99,9 (Recife - PE) entrevista com Laura Pujol (consulesa-geral de Cuba para o nordeste).





INTRODUÇÃO
Para adotar ainda hoje um modelo alternativo de sociedade, Cuba desperta amor e ódio e ao mesmo tempo em que o país é considerado uma referência em políticas públicas de saúde e educação, é também acusado de cercear a liberdade de expressão, perseguir os opositores do regime político capitaneado por Fidel Castro ao longo de décadas. No governo Petista, Cuba acabou envolvida nas disputas política-ideológicas do Brasil depois que a então presidenta Dilma Rousseff trouxe médicos cubanos como parte do Programa Mais Médicos. A vinda de médicos cubanos foi uma marca tão forte do governo de Dilma que muita gente que criticou o golpe contra Dilma foi taxado na época de comunista e apoiador de Cuba. Este mês Cuba sofreu com os estragos do Furacão Irma, o mais potente registrado no Atlântico na última década. Em meio a comoção geral provocada pela passagem do Irma no Estados Unidos, a mídia internacional pouco falou do sofrimento da população cubana que também foi vítima do furacão. Cuba sofre ainda hoje com o embargo econômico dos Estados Unidos e mais recentemente tem sido alvo das bravatas do presidente americano Donald Trump. Por tudo que já enfrentou, pelo que representa na história da América Latina e por todas as polêmicas que provoca, precisamos olhar para Cuba. Por isso, o fora da curva de hoje entrevista Laura Pujol consulesa-geral de Cuba para o nordeste, ela está em Recife para fazer uma palestra logo mais as 4:00 da tarde na feira literária intitulada Territórios Interculturais da Leitura. O evento acontece no Centro de Educação da UFPE.


Entrevistadora (Ivana): Bem vinda Laura ao nosso programa. 

Entrevistadora (Ivana): Para entrevistar Laura Pujol comigo nós convidamos Thiago Soares, professor do programa de pós-graduação em comunicação da UFPE. Ele frequenta Cuba há 8 anos e desenvolve a pesquisa intitulada "Música Pop em Cuba, Enfrentamentos Políticos e Midiáticos".

Entrevistadora (Ivana): Seja bem vindo, Thiago.

Thiago: Olá, obrigada Ivana. 

Entrevistadora (Ivana): Então Laura, Brasil e Cuba mantinham relações muito próximas nos governos de Lula e Dilma. Como está a relação do Brasil com Cuba hoje? Houve alguma mudança em termos de política internacional? 

Laura: Nós mantemos a nossa presença aqui no Brasil como parte do Programa Mais Médicos e temos um contingente de mais de 8 mil médicos aqui trabalhando. No nordeste são quase 3 mil, que vão em mais de 1.500  municípios. Temos o compromisso de ficar aqui sempre que o povo brasileiro tenha essa necessidade de dar esse apoio no atendimento básico de saúde. Temos várias áreas de interesse de intercâmbio na área comercial, inclusive no próximo mês, em novembro, 30 de outubro a 3 de novembro é a feira internacional de Havana, onde cada ano participa centenas de empreendedores brasileiros e esse ano não será diferente. Temos a presença certa de muitas empresas que confirmaram a adesão esse ano e o pavilhão do Brasil, como cada ano, será aberto na feira. Então nós temos 30 anos de relações com o Brasil depois da ditadura e nosso desejo e trabalho é para acrescentar nesse relacionamento. 

Thiago: Laura, como é a relação do Programa Mais Médicos com o governo cubano? Muito se ventila com a questão da verba, os médicos ganham uma verba e outra parte da verba vai para o governo cubano. Eu queria que você explicasse um pouco como funciona operacionalmente essa relação do Programa Mais Médicos com o governo de Cuba. 

Laura: O Programa Mais Médicos é um programa de formação, de superação científica para os nossos médicos, que ao mesmo tempo procura suprir uma necessidade de atendimento básico de saúde aqui no Brasil. Ele está assinado de maneira tripartida através da organização Pan-Americana da Saúde. Então os médicos cubanos que participam desse programa mantém o seu salário completo e todos os seus benefícios sociais deles e de sua família em Cuba por todo o período que eles estão aqui. E pela permanência aqui no Brasil, recebem um estipêndio que permite a estadia deles aqui. Além de que as prefeituras sempre reforçam com gastos de alimentação e moradia para garantir a fixação do pessoal aos municípios. Então eles estão bem, eu acabo de retornar de uma viagem do Ceará, pela Bahia, pelo interior mesmo. Visitando município por município. Visitamos mais de 400 médicos nos últimos 20 dias, conseguimos falar com eles e eles estão muito contentes. Já é uma turma nova, os primeiros médicos que chegaram aqui em 2013 já retornaram a Cuba. Então essa nova turma está agora em uma fase inicial, ainda de incorporação, mas já em outras condições que não se parece nada com o cenário que eles chegaram de uma forte polarização política com o momento atual que o que importa é o trabalho deles, que é o que sempre deve ser. Não politizar as questões de um serviço que está sendo dado a população de uma maneira excelente. Na Bahia tem uma pesquisa de avaliação do trabalho dos médicos e das equipes de saúde superior a 90% em todos os casos. Esses eram vários cenários, há um que dá 98%, outro que dá 96% e outro 92%, mas todo mundo coincide em que é ótimo o trabalho deles aqui. Portanto consideramos que é uma maneira de demonstrar que realmente estão felizes, estão cumprindo o papel deles aqui e realmente da certo. É um programa que deu certo e que continuará a dar certo porque a nossa vontade é de estar ali onde somos necessitados.

Entrevistadora (Ivana): Então, pro Brasil a gente sabe que o programa é fundamental. Ele garante a assistência médica a 63 milhões de pessoas, mas o que é que representa para Cuba em termos econômicos? 

Laura: Veja, não somente a cooperação com o Brasil, a cooperação médica internacional de Cuba é uma das principais coisas da nossa economia nacional. Nós modificamos nosso padrão há muitos anos. Há mais de 15 anos que a venda de serviço é praticamente o primeiro lugar de nossos lucros internacionais, seguido pelo turismo, recebemos 4 milhões de turistas o ano passado, mas na cooperação médica internacional estamos em 63 países. Eu quero enfatizar que nós não apenas fazemos essa cooperação médica por uma questão econômica. Nós fazemos essa cooperação médica por uma vocação solidária que tem a Revolução Cubana desde a sua fundação e que na metade desses países onde nós estamos presentes, Cuba assume 100% os gastos da cooperação internacional. Então, outros países que tem uma condição melhor pagam pela cooperação, e esse dinheiro que Cuba recebe vai diretamente ao orçamento nacional para os próprios gastos de saúde, de maneira que retorne um benefício, inclusive particular para os médicos, que a partir deste intercâmbio são a profissão que melhor salário tem dentro das profissões públicas cubanas, graças a essa contribuição que também da a medicina para a economia cubana. Os médicos sabem isso, então eles sabem perfeitamente que o trabalho deles é internacional. O que nós temos é o desejo de muitos médicos e participar na cooperação internacional em qualquer país. Acaba de sair uma brigada de 15 médicos cubanos para Serra Leoa por conta das inundações que ocorreram lá, e essa não é com retorno econômico. Então isso é o resultado de uma política de muitos anos, implementada por nosso país com essa solidariedade internacional que nós formamos, também, médicos em Cuba de mais de 120 países, ou seja, não é uma coisa, são muitas coisas que juntas fazem com que hoje os serviços médicos cubanos sejam muito procurados. Nos estamos na Ásia, na África, na Europa. Portugal tem um programa parecido com o Mais Médicos.



Entrevista completa disponível no Facebook da Rádio Universitária
Entrevista completa disponível para download em mp3






















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