terça-feira, 19 de abril de 2011

Homo sapiens, espécie em extinção?(*)

A exemplo de tantas outras espécies animais e vegetais também nós seres humanos somos uma espécie em extinção, vitimas da degradação ambiental de origem antrópica ? Ainda não, mas as estatísticas mostram que em menos de meio século, a população mundial vai parar de crescer, estacionar por algum tempo e depois começar a decrescer. No Brasil, isso deverá ocorrer a partir de 2030.
Hoje, a maior parte da humanidade não atinge a taxa de reposição, isso é, 2,1 filho por mulher durante sua vida, o que não assegura a permanência da espécie na Terra.
Causas objetivas e subjetivas são responsáveis pela ocorrência de tal fenômeno com destaque para a urbanização e aumento da escolaridade principalmente feminina, além de uma bem orquestrada campanha de controle da natalidade nos países periféricos conduzida pelas elites ocidentais.
Ao contrário do que se pensa, a maior proximidade entre as pessoas que vivem nas cidades não representa um estímulo à procriação. Um fosso separa as pessoas nesse campo destacando-se o custo de formação do indivíduo (CFI), a contabilização de todas as despesas desde que a criança é gerada até que se torne um adulto independente financeiramente. Apesar da gravidez na adolescência ser um fenômeno social importante, as condições da vida urbana vão postergando o aparecimento do primeiro filho e rareando os demais. A renda insuficiente e instável, a dificuldade de moradia,os desafios profissionais e outros obstáculos, obrigam os casais muitas vezes a ficarem apenas na primeira experiência.
A teoria da transição demográfica explica este comportamento reprodutivo humano com base na realidade da Europa Ocidental, primeira área do planeta a se industrializar e urbanizar a partir do século XIX. Do equilíbrio primitivo, alta natalidade e mortalidade, fase de lento crescimento demográfico motivado pela base rural da economia, passa-se, durante pouco tempo a explosão demográfica devido ao início do processo de industrialização e urbanização que provoca uma alta da natalidade e uma baixa acentuada na mortalidade. Logo a seguir, chega-se a maturidade, volta ao crescimento,lento da população, agora sob influência da economia
urbana,com baixas natalidade e mortalidade. Finalmente, graças às condições objetivas e subjetivas da atualidade, chega-se a regressão, a diminuição sustentada da população, não provocada como em algumas épocas passadas, por fome, guerras ou pestes.
Agora, aproxima-se uma segunda transição desta vez de ordem qualitativa.
O aumento do custo da reprodução humana tende a reservar esta possibilidade apenas às camadas mais ricas da população. Hoje, o corpo humano pela sua evolução apenas biológica, já não atende plenamente as exigências da vida moderna. Necessita de complementos, que vão desde óculos à máquinas de calcular, computadores a outras e mais sofisticadas “próteses”necessárias a sua sobrevivência biológica e social. E isso é caro.
Por outro lado, os avanços da ciência, já permitem, e tendem a ampliar, algum tipo de “enriquecimento genético”, com destaque para a possibilidade de livrar os descendentes do carma de algumas doenças hereditárias e a preservação de padrões de beleza esteticamente dominantes.
Como todas as conquistas científicas os resultados podem ser positivos ou negativos para as pessoas de acordo com a posição que ocupam na sociedade. Nesse sentido, recomendamos a leitura de algumas publicações de Laymert Garcia dos Santos sobre o domínio da natureza e dois livros de Dufour, a Arte de Reduzir as Cabeças e o Divino Mercado, o segundo tratando de maneira mais específica da produção do “esquizo”, o ser humano sem identidade estável, entre outras características, ideal para a reprodução ampliada do capital nos tempos atuais.

(*) Vantuil Barroso Filho, é geógrafo, mestre em Desenvolvimento Urbano e doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidade de Deusto, Bilbao, Espanha. Atualmente é professor do Centro de Educação da UFPE e Coordenador da Cátedra José Martí.

Nenhum comentário: