sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tradução de um trecho do Livro "The Political Mind - Brain Change and Social Change", de George Lakoff


Estamos colocando um trecho traduzido do livro "The Political Mind - Brain Change and Social Change" (A mente política - mudança cerebral e mudança social), de George Lakoff. É uma leitura muito interessante para o entendimento do contexto socio-político-econômico vivido atualmente.

Trecho da página 13 até a 15.

Os valores do velho iluminismo foram um imenso avanço para sua época. Mas nós sabemos muito mais agora do que no século 18 o que é esse processo para o humano, e quais desafios enfrenta a humanidade. Nossa constituição é, em grande parte, baseada nos instrumentos intelectuais e idéias herdadas pelas modelagens dos pensadores iluministas. Esses instrumentos e idéias não são mais adequados. Eles nos trazem grandes surpresas políticas, sociais e materiais. E, milagrosamente, as modelagens parecem até ter antecipado semelhante desenvolvimento, porque eles designaram a saída da democracia dinâmica, abrindo a possibilidade da revolucionária mudança. Nós temos novas surpresas para descobrir, novos sonhos para sonhar. Mas eles exigem um entendimento do qual o cérebro da ciência contemporânea nos ensina sobre quem nós somos e de que modo nós pensamos.

Teremos que abraçar uma racionalidade mais profunda, que possa dar conta e tirar vantagem de uma mente, em grande parte, inconsciente, incorporada, emotiva, empática, metafórica, e somente em parte universal. Um novo iluminismo não abandonará a razão, mas temos que compreender que utilizaremos a razão real – uma razão encorpada; uma razão modelada por nossos corpos e cérebros, e interações no mundo real, razão incorporando emoção, estruturada por modelos, metáforas, imagens e símbolos, com o pensamento consciente, modelado pelo vasto e invisível domínio do circuito neural, não acessível à consciência. E, como um guia para a nossas mentes, especialmente em política, teremos que pegar alguma ajuda das ciências cognitivas – da neurociência, computação neural, lingüística cognitiva, psicologia cognitiva do desenvolvimento, e assim por diante.

Nós necessitaremos, mais adiante, de uma nova filosofia – uma nova compreensão do que significa ser um humano; do que é a moralidade e de onde aparece; compreensão de economia, religião, política e da própria natureza; e até mesmo do que a ciência, filosofia e matemática são realmente. Nós teremos que expandir nossa compreensão das grandes idéias: liberdade, igualdade, justiça, progresso, felicidade.

E, mais sutil de todos, nós, na comunidade baseada na realidade, teremos que chegar a uma nova compreensão de como podemos entender a realidade. Ali está uma realidade e nós somos parte dela. E o caminho para entender a realidade é a própria realidade.

O cérebro não é neutro; não tem por objetivo geral imaginar. Ele aparece de uma estrutura, e nossa compreensão de mundo é limitada até onde o nosso cérebro pode fazer sentido. Parte dos nossos pensamentos é literal – modelando nossa experiência direta. Mas muito disso é metafórico e simbólico, estruturando nossa experiência indiretamente, mas não menos importante. Partes dos nossos mecanismos de compreensão são os mesmos em torno do mundo. Mas grandes partes não são, não são iguais em nossa própria região e cultura.

Nossos cérebros e inteligências trabalham para impor uma específica compreensão da realidade, e se confrontar com o que pode ser assustador, que nem todo mundo entende a realidade da mesma maneira. Que o medo tem importantes conseqüências políticas. Desde que os mecanismos do cérebro para compreender a realidade são inconscientes, uma compreensão da própria compreensão torna-se uma política necessária.

Desde que a linguagem é usada para comunicar o pensamento, nossa visão da linguagem também deve refletir nossa nova compreensão da natureza do pensamento. Linguagem é, ao mesmo tempo, um fenômeno de superfície e uma fonte de poder. Ela é um meio de expressão, comunicação, acesso e uma forma de modelar pensamento. Palavras são definidas em relação aos moldes e metáforas conceituais. Linguagem “se encaixa à realidade” na medida em que ela se encaixa na nossa compreensão do corpo e cérebro, baseada na realidade. Desde que todos nós tenhamos corpos e cérebros similares e vivamos no mesmo mundo, vamos aparecer em muitos casos que a linguagem se encaixa justamente na realidade direta. Mas quando nossas compreensões da realidade diferem, significa que a nossa linguagem pode ser diferente, bem como muitas vezes de forma radical. Na política é o que ocorre muitas vezes e temos que prestar muita atenção para o uso da linguagem.

Linguagem obtém o seu poder, porque é relativamente definida para moldar protótipos, metáforas, narrativas, imagens e emoções. Parte desse poder vem de aspectos inconscientes: não estamos conscientes de tudo o que ela evoca em nós, mas ela está lá, escondida, sempre trabalhando. Se nós ouvirmos a mesma linguagem mais e mais, nós pensaremos cada vez mais em termos de modelagens e metáforas ativadas por essa linguagem. E isso não importa se você está negando palavras ou questionando-as; as mesmas modelagens e metáforas serão ativadas e, portanto, consolidadas.

Linguagem utiliza símbolos. Linguagem é uma ferramenta, um instrumento – mas ela é a superfície, não a alma, do pensamento. Eu quero que nos olhemos sob a linguagem. Novas cortinas não vão salvar sua casa se a fundação estiver rachando.

O velho iluminismo não viu da razão o suficiente para compreender a nossa política. Na verdade, ele entrou no caminho. Não apenas esconde a verdadeira ameaça à nossa democracia, que muitas vezes mantêm muitos de nossos principais líderes políticos, especialistas da política, comentaristas e ativistas sociais, impedindo-os de serem efetivos.

O velho iluminismo cumpriu o seu curso. Um novo iluminismo aparece pronto ou não. O primeiro passo é compreender e abraçar a mente do 21° século. Ele é o único que temos.

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